Pelo génio de Pedro Guerreiro / Sab, 26 Jan, 2008 às 02:13
Adverte-se: No Zurraria não se faz crítica de teatro, nem de artes performativas, mas também não nos compadecemos com Musicais.
O musical é
Querido Che, peça da Sola do Sapato, encenada por Almeno Gonçalves e que conta com um bom elenco, composto por Alexandre Ferreira, Hugo Sequeira, João Maria Pinto, João Miguel Mota, Manuel Lourenço, Maria Walbeehm, Orlando Costa, Patrícia Pinheiro e Sofia Dias. Coreografias de Marco de Camillis, canções originais do Hugo Novo, tal como o texto que, original de Abel Neves, mistura ficção e história, ou direi, estória, porque esta só é fiável a espaços.
O texto é algo inconsistente, precisamente por tentar fazer da peça o misto entre peça biográfica e ficção. Às tantas andamos enredados na ficção do Ernesto Guevara, sendo ele seduzido por uma jeitosa rapariga ao que ele responde, à laia de historicismo bacoco, alarvidades como "Eu tenho um ideal! Esse ideal é mais importante que cada um de nós" e derivados.
Esta fusão repentina redunda em desconexões por demais evidentes. A minha cabeça andava a velocidade alucinante: Amor, Revolução, Amor, Revolução, Amor, Revolução, Amor, Revolução e por aí diante.
Há personagens pouco mais que inúteis. Uma das personagens - a pretendente de Ernesto Guevara - existe para que Che lhe diga: "A minha paixão é a Revolução!", uma frase tão
cliché que, segundos antes dele a concluir, ouvi, na plateia, várias vozes a segredar a frase, talvez convencidas de que iriam informar alguém. Aparte estas questões e o facto dos actores serem, na sua quase totalidade - com honrosas excepções - maus cantores,
Querido Che é uma boa peça.
Entretida, e que até dá para rir.
Quem lá vai à procura da Revolução, vai mal. Quem lá vai à procura de outra coisa qualquer também vai mal. Quem vai à procura de uma peça que, por acaso até é musical, até vai bem