Quando a esmola é grande, o pobre desconfia, e às vezes faz bem em desconfiar.
Desde o inicio da produção que
American Gangster anda com um gigantesco sinal luminoso a dizer
"Oscar Material", para todo o mundo ver. Ora isto acarreta uma grande responsabilidade para as pessoas envolvidas, essencialmente na tentativa de corresponder às expectativas criadas nos largos meses que antecederam a estreia.
É certo que o filme deixou muita gente com um sentimento de semi-desilusão, ou mesmo desilusão, muito por culpa da diminuta quantidade de verdadeiras cenas de acção com sangue e balas a voar por todo o lado,
à la Scarface, por certo.
American Gangster é uma obra impecável de Ridley Scott, mas não será o melhor filme de
gangsters do cinema americano. Ainda assim safa-se bastante bem, e por certo estará a julgamento nos Oscars deste ano. O problema é que fica o sentimento de que falta algo ao filme, apesar das duas horas e meia de película. Se calhar estamos mal habituados com os finais em apoteose com que termina a grande maioria dos filmes do género. A isto acresce o facto de em American Gangster se sentir um cheirinho do Zodiac de David Fincher. Digo eu...
Será a atmosfera dos anos setenta ou a personalidade de Richie Roberts e Frank Lucas que me remete para a personagem Robert Graysmith de Jake Gyllenhaal. Enfim, se calhar é só parvoíce minha. Quem esperava um festival de bazófia foi bater à porta errada, mas não pode ter dado o dinheiro do bilhete por perdido.
O grupo de actores de American Gangster é só por si garantia de um grande trabalho, mais não fosse por ter Russell Crowe e
my man... Denzel Washington, mas não posso deixar de realçar o espectáculo que é ver Josh Brolin, um
bad motherfucker à antiga.
American Gangster está bem de saúde e recomenda-se. Ainda que tenha algumas falhas, não deixa de ser um dos bons filmes do ano e mais uma bela obra do mais velho dos irmãos Scott.
Já agora, o que também se recomenda é o álbum homónimo criado por Jay-Z com inspiração no filme. Coisa jeitosa e bem trabalhada, retorno ao
oldschool, nas letras e nos sons, como há algum tempo não se via em
jigga.